Múcio decide permanecer no comando da Defesa
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, decidiu permanecer no governo após um pedido direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A decisão foi selada na noite da última sexta-feira (31), durante uma reunião no Palácio do Planalto.

Lula argumentou que o ambiente dentro das Forças Armadas ainda é instável e que os desdobramentos da investigação sobre uma tentativa de golpe de Estado podem tensionar ainda mais a relação entre o governo e os militares. Três fontes próximas ao presidente e ao ministro revelaram à Folha de S.Paulo que um dos fatores decisivos para a permanência de Múcio foi sua atuação diante da crise gerada pela Marinha, que divulgou um vídeo contrário à mudança na aposentadoria dos militares.
Diante desse cenário, Lula e Múcio chegaram a considerar a demissão do comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen. No entanto, a decisão final foi resolver o impasse internamente, evitando uma crise institucional ainda maior e mudanças inesperadas no comando militar.
Outro fator que pesou na permanência do ministro foi a necessidade de manter estabilidade na Esplanada dos Ministérios, especialmente com a iminência de uma reforma ministerial que deve abrir espaço para partidos do centro político. Lula destacou que uma saída abrupta de Múcio poderia tornar o rearranjo do governo ainda mais complexo.
Apesar de sua decisão de continuar no cargo, Múcio confidenciou a auxiliares que, pessoalmente, desejava deixar o governo para dedicar mais tempo à família. Ele sempre afirmou que seu cargo pertence a Lula e que só sairia com a anuência do presidente. Desde o início da gestão, sua permanência foi condicionada à possibilidade de uma saída antecipada, e ele já havia expressado esse desejo ao presidente pela primeira vez no final de 2023.
O último pedido de demissão aconteceu em dezembro, quando Múcio se reuniu com Lula em São Paulo e afirmou que havia cumprido sua missão e que era o momento de se afastar da rotina intensa do Ministério da Defesa. Diante dessa possibilidade, diversos nomes chegaram a ser cogitados como sucessores, incluindo o vice-presidente Geraldo Alckmin, o ministro Alexandre Padilha (PT), o secretário-executivo da Indústria, Márcio Elias Rosa, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Porém, diante dos apelos de comandantes militares, ministros do Supremo Tribunal Federal e ex-chefes da Defesa, Lula decidiu manter Múcio no cargo. O presidente avaliou que ninguém teria mais habilidade para garantir a pacificação entre o governo e as Forças Armadas do que o atual ministro.
Durante seu período à frente do Ministério da Defesa, Múcio enfrentou diversas crises. Após os ataques de 8 de janeiro de 2023, ele chegou a sugerir a decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para que os militares desocupassem os prédios invadidos, mas a ideia foi rejeitada por Lula e pela primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja.
Além disso, o ministro enfrentou forte oposição dentro do próprio governo, especialmente de setores do PT que defendiam mudanças mais radicais na relação com os militares. Essas críticas se intensificaram quando Múcio declarou publicamente que questões ideológicas estavam impedindo o Exército de assinar um contrato de compra de armamentos com uma empresa israelense.
“A questão diplomática interfere na Defesa. Houve agora uma concorrência, uma licitação. Venceram os judeus, o povo de Israel, mas por questões da guerra, o Hamas, os grupos políticos, nós estamos com essa licitação pronta, mas por questões ideológicas não podemos aprovar”, afirmou o ministro durante um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Apesar das pressões, Lula manteve apoio a Múcio e, em agosto de 2024, durante o evento de 25 anos do Ministério da Defesa, afirmou que ele será reconhecido no futuro como um dos melhores ministros da Defesa da história do Brasil.
“Haverá um dia em que a história brasileira haverá de consagrar a tua passagem pelo Ministério da Defesa como possivelmente o mais hábil de todos os ministros da Defesa que esse país já teve”, declarou o presidente.